O Homem por trás do Gênio

Lançada em 2017 e com sua terceira temporada confirmada para 2020 (pelo menos até este momento, já que em tempos de pandemia todo cronograma é incerto), a série Genius tem a proposta de criar uma antologia baseada em um protagonista diferente por temporada. Sendo que na temporada de estréia tivemos nada mais nada menos do que Albert Einstein, nome quase instantaneamente vinculado a palavra genialidade.

A série foi bem recebida por público e crítica sendo indicada a vários prêmios.  Uma segunda temporada foi lançada e uma terceira confirmada, tendo como protagonistas Pablo Picasso e Aretha Franklin respectivamente.

Como podem supor pelo nome deste humilde blog trataremos aqui da primeira temporada e de um dos cientistas mais brilhantes de todos os tempos.

Baseada na biografia escrita em 2007 por Walter Isaacson (Einstein: Sua vida, seu universo) temos aqui uma estrutura de dez episódios que vão e voltam no tempo alternando entre um Einstein mais velho (Geofrey Rush) e um mais jóvem (Johnny Flynn). A narrativa é dedicada a mostrar a intimidade do homem por trás do gênio. Assim são revelados vários aspectos de sua personalidade, de sua vida amorosa, de suas obsessões e de seu brilhantismo.

Geoffrey Rush as Einstein
Geofrey Rush como Einstein (Fonte: National Geographic)
Também chamam a atenção na série, as diversas aparições de figuras históricas (Marrie Currie, Max Planck, Carl Jung...) e também o cenário político que permeia a vida do Físico. Desde a fuga do nazismo na Alemanha (onde temos uma fotografia escura e um clima mais tenso) até a luta contra o desarmamento nuclear e a perseguição do FBI.

Temos também os momentos de calmaria onde predominam os tons mais claros, ressaltando o lado sonhador de Einstein, principalmente em sua juventude e seu primeiro romance, mas também nas singelas cenas onde ele ensina matemática para uma garotinha.

Apesar dos dez episódios, alguns saltos temporais são necessários, o que pode confundir alguns espectadores. Porém a série dedica um bom tempo ao primeiro casamento de Einstein com Mileva Maric, com quem teve dois filhos.  Nesta etapa, vamos da fase do encantamento ao ver a única mulher na sala de aula até o trauma do divórcio que se arrastou por anos. Mileva acaba sendo uma personagem de destaque e que merece ser conhecida pelo grande público. Uma mulher que interrompeu seu sonho de se tornar cientista em prol da família e dos sonhos do marido. Alguém que  sempre estava lá para revisar os cálculos de seu amado, mesmo que este jamais tenha pensado em lidar algum crédito por isso. Se hoje em dia as mulheres lutam para ter mais voz, imagine em meados de 1900...

Em vários momentos chegamos a ter raiva de Einstein e de suas atitudes misóginas, adulteras e egoístas.

Genius (2017-)
Einstein e Mileva (Fonte: IMDB)
Este fato torna a experiência proporcionada, mais rica e verossímil. Primeiro pela carga dramática gerada por um personagem repleto de camadas e segundo pela narrativa que mostra que os grandes nomes da história são antes de mais nada, pessoas comuns. Homens e mulheres em busca de seus sonhos.

Nossa cultura sempre conta a história clichê do gênio que se superou e venceu. Isso gera uma imagem caricata e irreal dos retratados nessas histórias.

Neste sentido, Genius presta um ótimo serviço em desmistificar este tipo de narrativa. Mesmo que os aspectos positivos como a curiosidade, os insights, a rebeldia e a imaginação estejam todos ali, os apsectos negativos como a negligência com a família, a teimosia, os impulsos de traição e os conflitos pessoais tem igual peso. Isso pode tornar nosso protagonista odiável e amável ao mesmo tempo.

Essa mesma dualidade também paira sobre a ciência retratada na série. Diversos cientistas com seus egos e suas convicções entram em conflito o tempo todo. Ao mesmo tempo que vemos um Frittz Harber que ajudou a salvar milhares da miséria através de invenções que foram utilizadas na agricultura, vemos o mesmo homem ajudando a matar milhares com  suas invenções durante a primeira guerra. Temos outros como Philipp Lenard que outrora fez grandes contribuições científicas (com suas pesquisas sobre raios catódicos) mas também sucumbiu em sua própria ideologia nazista, fechando sua mente para o progresso científico.

Outras questões envolvendo a responsabilidade dos cientistas em meio a política são exploradas de forma abrangente. Percebam que negacionismo e ideologia tentando sobrepujar ciência não é nenhuma exclusividade do século XXI. Basta trocar a palavra guerra, pela palavra pandemia e nota-se que evoluímos muito pouco em mais de cem anos. Pelo menos na série, não temos ninguém falando em terra plana ¯\_(ツ)_/¯.

Por fim a série Genius é uma ótima propaganda sobre Einstein e a ciência em geral. Mas ela vai muito além disso, pois nos ajuda a lembrar que por trás dos gênios existem seres humanos.





Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Genius_(s%C3%A9rie_de_televis%C3%A3o)

https://www.nationalgeographicbrasil.com/video/tv/genius-vida-de-einstein