Ah, a gradução!

Trinta e um de outubro de 2013. Essa é a data da última postagem deste blog. E antes que os dois anos em branco fossem completados, eis que um post novo surgiu por aqui. E desta vez, um post um pouco mais pessoal e talvez até sentimental. Nestes quase dois anos, muita coisa mudou. Descobertas em física, mais um Nobel, avanços tecnológicos e este que vos escreve agora faz parte dos aproximadamente 25% dos licenciados em física que se formam anualmente. A informação foi retirada de um artigo no Site da sociedade Brasileira de Física (que pode ser acessado nas referências):

"Em estudo realizado pela SBF, coordenado por Shirley Gobbato, foram consultadas 30 das maiores instituições do País e verificou-se que em 2006 tivemos 3918 estudantes matriculados no semestre inicial. Entretanto, em 2005 essas instituições só formaram 520 licenciados. Ignorando a – provavelmente pequena – variação no número de ingressantes, concluímos que esses cursos apresentam uma evasão de 85%"

Dados do INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais) mostram que estamos formando cerca de 900 professores/ano. Alguém falou em crise na educação? Esta discussão fica fica para um próximo post.


Gráfico 6.1 da referência 1


O objetivo deste texto é compartilhar um pouco da experiência e da vivência que estes seis anos de UNESP (sim, eu sei que deveriam ser quatro -_-) trouxeram para mim.

Contextualizando: A UNESP de Bauru atualmente oferece as modalidades de licenciatura e bacharel (em 2010 quando entrei não). Portanto, vou focar na licenciatura que é onde estive.

Nota-se que o curso foi montado para atender a um perfil de estudante que também trabalha. Pois a grade é noturna e no período da manhã inclui apenas os Sábados. E o meu Perfil, era exatamente este!

Tive contato com a física na oitava série (atual nono ano) e enfiei na cabeça que queria este curso. Passei pelo técnico em informática no colegial (que não me fez mudar de ideia) e comecei a adquirir familiaridade com os números e a lógica (mas isso não me impediu de sofrer, sempre tenho dificuldade com a matemática). Isso fez com que no meio de 2010, após um bom primeiro semestre eu já estivesse trabalhando. E ai vieram elas, as DP's: Primeiro o cálculo II, até ai nada demais, alguns colegas já desistiam do curso, outros se destacavam e eu como sempre estava bem no meio, nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. 

Vamos aproveitar este breve resumo para apontar alguns motivos para tamanhã evasão no curso de física:

- Dificuldade dos alunos em acompanhar as disciplinas e alto índice de reprovações (Ah, os cálculos!)

- Pouca dificuldade para entrar no curso (de acordo com o INEP, o índice de desistência de cursos de Medicina é de apenas 4%)

Explicando: Imagine um adolescente confuso, com um pouco de dificuldade em exatas, um curso com concorrência entre 2 e 3 por vaga e voilà! Temos algumas explicações para apenas 900 professores por ano. Posso ir mais longe: A falta da regulamentação da profissão de físico (agora incluindo nossos colegar do bacharel), o sucateamento do ensino e a desvalorização do professor. Pronto, começamos a entender porque estamos com um índice pouco mais de vinte vezes maior que nossos colegas médicos.

Mas que diabos tem de bom neste curso? Meus amigos, digo de boca cheia que a licenciatura em física foi uma das melhores escolhas dos meus breves vinte e três anos. Sempre fui muito identificado com humanidades e com ciências. A licenciatura me permitiu estar com os pés nas duas áreas, bem onde eu queria. 

Filosofia e História da Ciência, Psicologia da Educação e até mesmo as enfadonhas e chatas Metodologias, todas me trazendo um referencial teórico absurdamente rico! Me lembrando que as equações e que as integrais e os modelos teóricos, deviam conversar com as pessoas! 
Ouvi uma certa vez  (e eu assino embaixo): "As pessoas mais interessantes, estão nas intersecções entre as áreas". E a experiência com a licenciatura me mostrou isso e me permitiu provar um pouco disso.
Ainda não peguei o meu =(

Depois veio o segundo ano, o tiro de guerra, mais reprovações, mais trabalho, o blog, o livro Zen e a arte da manutenção de Motocicletas (Robert Pircig, 1973 - Este me fazendo redescobrir o amor pela ciência a cada vez que leio). Sem falar é claro, nas amizades, nas festas, nas madrugadas estudando, nas notas raspando, no medo de perder o curso... Ou seja, uma grande aventura!

Ao fim desta passagem, eu quero mais! Quero lecionar, quero estudar quero incentivar pessoas a se formar, quero falar de ciência, quero ver pessoas falando de ciência, pois afinal eu não entendo como tantos podem viver na ignorância de não tentar entender como funciona o mundo. Não Cypher! A ignorância não é uma benção! (Alguém falou em Matrix?).

Um curso extremamente trabalhoso, desvalorizado, porém gratificante e rico. É assim que vejo a graduação em física. Um muito obrigado pela paciência de cada professor (dos mais ranzinzas aos mais paciente). Um muito obrigado a cada um dos colegas de classe que fez parte desta trajetória, seja por um semestre ou por anos.


E que venha mais!

O Blog está de volta! 


Referências (acessadas em 08/09/2015)


http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/vida-na-universidade/ufpr/as-graduacoes-campeas-de-desistencia-26khijqty1gurtas1veawhyz2 -1

http://www.sbfisica.org.br/v1/arquivos_diversos/publicacoes/FisicaCapes.pdf -2