O som e o vácuo

Neste último post aqui, comecei com um meme e a legenda: "Som se propagando no vácuo? Ta maluco?" Me esquecendo que nem todos podem compreender logo de cara esta ideia, portanto vamos aos conceitos =D

Antes de mais nada, vamos adotar uma simples definição: " O som é uma onda mecânica que se propaga longitudinalmente em um meio material" (Mundo Educação). Vamos agora fazer a análise de cada trecho desta definição:

Onda: Uma perturbação que se propaga através de um meio e transporta
energia (pense em uma pedra que é lançada em um lago provocando ondulações) *

Meio Material: Meio que contém matéria, ou seja partículas que podem interagir com nossa onda
Onda mecânica: Uma perturbação que necessita de um meio material para se propagar, como por exemplo: ar ou água. **

 
* Deixo aqui um link para energia, pois não é o objetivo deste post defini-la.

** Existe outro tipo de onda que é a onda eletromagnética que são ondas geradas por cargas elétricas que oscilam e não necessitam de um meio material para se propagar (mas também podem se propagar neles). Um exemplo é a luz visível.

Para aspectos mais técnicos do estudo das ondas, veja o ótimo texto do site Só Física

Quando a Estrela da Morte explodiu em Star Wars IV, ninguém ouviu :(
 
 Agora que temos as definições de onda e de som, vamos nos concentrar em como o som é produzido e propagado.

O som é produzido pela vibração dos corpos. No caso da fala, são as cordas vocais vibrando, no caso de uma bateria, a batida da baqueta faz com que o tambor (ou prato) vibre e essas vibrações se propagam longitudinalmente (no sentido de um eixo principal) através das moléculas do meio material e chegam até nosso ouvido, onde fazem nosso tímpano vibrar e produzem sensações sonoras.

Um esquema representando a propagação do som
Veja que uma onda mecânica como o som necessita de um meio material para se propagar e dependendo da elasticidade do meio a onda vai se propagar com maior ou menor velocidade.

Espero que este texto tenha ajudado a entender porque algumas cenas de 2001: Uma Odisseia no espaço ou de Interstellar são praticamente mudas visto que se passam no vácuo e ele não é um meio material, sendo assim o som não se propaga, Bingo!

O Física com Tequila deseja um feliz ano novo! =D


Referências:

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/som-infrassom-ultrassom.htm 

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/o-que-som.htm

Acessados em 27/12/2015







Space Opera x Sci Fi

Explosões que fazem som no espaço? Viagens no tempo? Raças de alienígenas? Planetas inteiros que desaparecem do nada? Cadê a Ciência dessa ficção toda?

Som se propagando no vácuo? Ta maluco?

Calma meu caro leitor! Vamos colocar os devidos pingos nos i's. Como disse neste post aqui ultimamente o cinema vêm nos presenteando com uma série de filmes que mostram a ciência com muita seriedade (Interstellar, Lunar, Perdido em Marte) já outros são o mais puro e fantasioso escapismo que dão asas à nossa imaginação (Star Wars, Star Trek, Guardiões da Galaxia). Mas e ai, qual a diferença? E o que isso tem a ver com ciência? Para responder esta pergunta vamos para algumas definições:

Science Fiction - Sci Fi ou Ficção científica

Dicionário Informal
 
"Um tipo de conto, história que se propõe a fantasiar algo possível, mesmo que não seja no presente. Uma fantasia literária que tem ligação,na maioria das vezes,com Ciência"

Priberam dicionário Online

[Cinema, Literatura, Televisão]  Criação de .caráter artístico, baseada na imaginação dos progressos científicos e tecnológicos.

"ficção científica", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/fic%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica [consultado em 24-12-2015].
"Criação de caráter artístico, baseada na imaginação dos progressos científicos e tecnológicos"

Wikipédia

"Ficção científica é um gênero literário desenvolvido no século XIX, que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos."

Kung Fu e questionamento filosóficos, como vocês conseguiram irmãos Wachowski?

Ópera Espacial ou Space Opera

Wikipédia

"Space opera (também referida como ópera espacial ) é um sub-gênero da ficção especulativa ou ficção científica que enfatiza a aventura romântica, cenários exóticos e personagens épicos."

Info Escola

"Com roteiros exagerados e dramatizados, durante um tempo, a space opera foi chamada de “super ficção”. Nela as histórias, geralmente, envolvem grandes corporações que abrangem extensões do universo"

Momentum Saga

"Normalmente sendo considerado um sub-gênero de qualidade inferior na ficção científica, o termo foi cunhado em 1941 por Wilson Tucker, fã e autor do gênero, como um termo pejorativo mesmo. Mais ou menos nesta época as novelas espaciais no rádio, nas pulp fictions e nas fanzines se proliferavam, carregados de aventuras improváveis, já que muito se desconhecia sobre espaço, ciência espacial e tudo era baseado na pura especulação."

 

A Space Opera mais aguardada dos últimos 30 anos


Das definições acima podemos concluir que a Space Opera está muito mais para o fantasioso do que para o científico, não tendo obrigação nenhuma de ser semelhante com a realidade. Sendo assim, retomo o primeiro parágrafo onde vemos absurdos científicos ocorrendo devido a "licença poética", são obras que não se levam a sério, exigindo grande suspensão da descrença.
Apesar de toda a licença poética a Space Opera muitas vezes possui em seus "impérios" ou "regimes autoritários" fortes críticas a governos e regimes atuais. Utilizando o já citado Star Wars, nitidamente vemos um império com um quê de Nazismo e os Rebeldes da Esquerda batalhando (lembre-se que naquela época vivenciava-se uma total descrença com o governo americano e com a derrota no Vietnã).

Para o grande público não diferença entre os dois gêneros e tudo é classificado como ficção científica (da boa ou da ruim). Vale ressaltar que a ficção "boa" (a que se leva a sério) também não tem como obrigação mostrar a ciência como de fato ela é, seu principal objetivo é provocar a reflexão sobre as consequências sociais do desenvolvimento técnico-científico, tendo como pano de fundo o conhecimento atual ou mesmo especulativo. Como exemplo podemos citar o que é tido como o primeiro romance da ficção científica  Frankenstein de Mary Shelley, de 1815 onde temos claramente a reflexão sobre os limites da ética, o medo do desconhecido, e o conflito Homem x Deus (Criatura x Criador), tudo isso tendo como pano de fundo um ser inconcebível pela ciência até os dias de hoje. Mas vemos as mesma discussões quando pensamos em clonagem e células tronco, por exemplo.


Frankstein e uma discussão muito rica até os dias atuais

Possuindo licença poética ou não, a ciência e a ficção muitas vezes andam lado a lado, assim como o filme Le Voyage dans la lune (Viagem à lua) levou o homem até a lua em 1902. Nosso foguetes fizeram isso 67 anos depois. É mais um exemplo da intersecção entre a arte e a ciência e da vida "imitando" a arte.

O Física com Tequila deseja uma ótima seção de Star Wars VII para vocês (e lembrem-se que o som não se propaga no vácuo), um ótimo final de ano e boas festas!


Referências

[Cinema, Literatura, Televisão]  Criação de .caráter artístico, baseada na imaginação dos progressos científicos e tecnológicos.

"ficção científica", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/fic%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica [consultado em 24-12-2015].

"ficção científica", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/fic%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica [consultado em 24-12-2015].

"ficção científica", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/fic%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica [consultado em 24-12-2015].

Onde estão os outros livros de divulgação científica?

Cadê?


Sempre que vou a uma livraria procuro verificar os livros de ciência e particularmente os de física. Muitas vezes em busca de algo interessante para a leitura própria, mas também para verificar o que andam vendendo por ai especificamente na área científica.

Verificar? Como assim? 

A visão de ciência que é difundida popularmente está mais para um "endeusamento" do que para uma divulgação baseada em fatos. Como disse em um post anterior, erros conceituais podem ser corrigidos com a ajuda de um profissional gabaritado, porém erros ideológicos são mais graves e devem ser analisados e questionados... adivinhem por quem? Por nós é claro! Os futuros professores, físicos, químicos, biólogos, engenheiros... Cabe a nós reduzir esta distância cultural entre a ciência que as pessoas enxergam e mídia vende e a ciência que é feita nas universidades e laboratórios. 
Uma simples analogia é com o futebol: Sempre estão em evidência os grandes jogadores de grandes clubes que tem contratos milionários e se destacam tanto pela ostentação quanto pelo talento em campo. Enquanto isso esquecemos que no ano de 2015, pelo menos 30% dos jogadores que disputaram o campeonato Paulista, ficaram desempregados. Uma outra analogia é com os músicos. enquanto uma imensa maioria ganha a vida tocando em bares quase todos os dias e possuindo outras fontes de renda, pensamos sempre naqueles que lotam estádios e levam multidões ao delírio.


Dave Grohl o Mr nice Guy do Rock atual


Um fenômeno parecido acontece na área científica, somos levados a acreditar que o cenário é composto apenas por poucos e geniais cientistas, esquecendo que no Brasil existem mais de 35 mil grupos de pesquisa. A pesquisa feita pelo Censo em Junho de 2015 abrange 492 instituições e envolve 180.262 pesquisadores e aproximadamente 307 mil estudantes de graduação e pós-graduação.Todas estas pessoas são gente como nós. Que estão diariamente trabalhando em seus projetos, colaborando com outros grupos e muitas vezes não recebendo o que merecem ($$). Mas negócios são negócios e a imagem do cientista genial e solitário é a que mais vende.

Vamos fazer um pequeno experimento baseado em minha última visita a uma livraria respeitada de Bauru, interior de São Paulo. Vou listar alguns livros que encontrei e que de alguma forma estão relacionados com a ciência:


Uma Breve história do tempo
Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros, é um livro de divulgação científica escrito pelo Professor Stephen Hawking, publicado pela primeira vez em 1988. Ele rapidamente veio a se tornar um "best-seller". Em maio de 1995 entrou na lista dos mais vendidos durante 237 semanas.




Stephen Hawking: Uma vida para a ciência
Considerado uma espécie de Einstein contemporâneo por suas descobertas na física, Stephen Hawking encarna também o mito de um herói trágico por viver quase imóvel em uma cadeira de rodas e dependente de um sintetizador de voz em consequência da esclerose lateral amiotrófica.
 


Uma Breve história da ciência
Nesta obra, a historiadora científica Patricia Fara relata de forma extremamente agradável e simples as grandes evoluções da ciência. Derruba mitos, fala de gênios atemporais, resgata cientistas esquecidos tudo para levar o leitor a viajar na maior aventura de todas: a história da ciência.  



Perdido em Marte 

Há seis dias, o astronauta Mark Watney se tornou a décima sétima pessoa a pisar em Marte. E, provavelmente, será a primeira a morrer no planeta vermelho. Com um forte embasamento científico real e moderno, Perdido em Marte é um suspense memorável e divertido, impulsionado por uma trama que não para de surpreender o leitor.


O físico mais badalado da atualidade, até nos Simpsons  ele está

 
Analisando:

- Dos 4 livros, dois estão diretamente ligado a Stephen Hawking, sendo um deles o consagrado "Uma breve história do Tempo" e outro uma mistura de biografia com relatos científicos. Como citado no início, a imagem dos grandes cientistas tendem a prevalecer comercialmente. Vale ressaltar que o Oscar deste ano foi para um ator que interpretou Hawking. O que pode ter aumentado a demanda

- Patricia Fara é professora do departamento de história e filosofia da ciência de Cambridge. Graduada em física. Foi difícil encontrar informações devido a tradução que deram ao título original: Science: A Four Thousand Year History. Acredito que a ideia dos tradutores foi criar uma aproximação com o título do livro de Stephen Hawking. Vemos muito isso em filmes e faz parte de uma estratégia das distribuidoras. 

- Perdido em Marte não é um livro de divulgação e sim uma ficção, que tem seu papel em despertar o interesse para a ciência. Mais uma vez, vemos aqui um livro aproveitando o sucesso do filme que o adapta (até a capa foi trocada).

Um detalhe é que o livro biográfico de Hawking estava na área de Sociologia, perdido (pode ter sido algum cliente que colocou no lugar errado, e não comprova descuido com o material). Mas ao vê-lo devolvido em seu lugar original, fiquei surpreso pois era Biografia e não ciência  -_-

Assim encerro este pequeno estudo de caso. Não está em pauta a qualidade dos livros e sim a ideia de que só alguns poucos é que representam a ciência. Tal qual o Mainstream de um show ou o camisa 10 de um time de futebol. Pois assim como as bandas de abertura fazem shows sensacionais e os outros dez jogadores de um time tem seu papel tático, os cientistas anônimos também têm sua contribuição na construção do conhecimento.


 Referências:

Patrcia Fara: http://www.clare.cam.ac.uk/Fellows-and-Staff-Directory/pf10006/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Uma_Breve_Hist%C3%B3ria_do_Tempo 

http://www.saraiva.com.br/stephen-hawking-uma-vida-para-a-ciencia-185493.html 

http://www.saraiva.com.br/perdido-em-marte-uma-missao-a-marte-um-terrivel-acidente-a-luta-de-um-homem-pela-sobrevivencia-8164096.html

http://www.submarino.com.br/produto/120910199/livro-uma-breve-historia-da-ciencia

http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2015/06/pais-tem-mais-de-35-mil-grupos-de-pesquisa-aponta-censo 

 * todas de 02/12/2015

Os Inovadores



"Os inovadores conta a história das pessoas que criaram o computador e a internet. Quais foram os talentos que permitiram que certos inventores e empreendedores transformassem suas ideias visionárias em realidade? O que os levou a seus saltos criativos? Por que alguns conseguiram transpor obstáculos e outros não? Num abrangente panorama histórico, Walter Isaacson conecta as personalidades fascinantes que estão por trás da nossa revolução digital"

O texto acima trata da sinopse oficial do livro Os Inovadores (2014). O livro tem como foco traçar a biografia da era digital e para isso faz uma longa trajetória, desde os tempos de Ada Lovelace até Larry Page e Sergey Brin, destacando muitos dos aspectos que permitiram a inovação e o avanço tecnológico e científico.

Walter Isaacson foi presidente da CNN e editor da Revista Time. É autor de Steve Jobs: A Biografia, Einstein: Sua vida, seu universo, entre outros.

Após finalizar a leitura da biografia de Steve Jobs, me interessei muito pelos demais livros do autor. Ao saber que ele também escrevera sobre Einstein fiquei mais interessado ainda, até que me deparei com esta grata surpresa: Os Inovadores.

Livros como este, que ressaltam as grandes inovações advindas do trabalho entre equipes de cientistas, engenheiros, técnicos e programadores, fazem com que possamos entender um pouco mais sobre inovação, colaboração e trabalho em equipe. Coisas que são essenciais ao avanço científico e tecnológico.

Sabemos que ciência e a tecnologia caminham bem próximas uma da outra, embora não estabeleçam uma relação de causa e consequência e tão pouco uma relação de autoridade entre si. Mas o que isso quer dizer? Bem, nem sempre estuda-se algum fenômeno visando sua aplicação como uma forma de tecnologia. E nem toda tecnologia que surge, veio necessariamente de uma pesquisa científica. São muitos os casos de descobertas ou invenções acidentais. Ora, se tudo que é pesquisado tivesse obrigação de ter uma aplicação "palpável" (estou me referindo a uma utilidade enxergada a curto prazo) a física teórica seria renegada por muitos. Mas o fato é que o ser humano aprende com estes conhecimentos que adquire e os utiliza para melhorar sua vida, seja com alguma nova tecnologia ou pelo simples fato de entender e compreender melhor o universo. A curiosidade é uma característica que está na essência do ser humano.

Curiosidade e Inquietação, características sempre presentes em grandes inovadores. E não seriam os grandes cientistas, grandes inovadores? Pessoas que estavam a frente de sua época, que investiram uma vida toda em seus trabalhos e acarretaram grandes progressos para a sociedade?


John Atanasoff - Já ouviu falar?
Além da discussão sobre inovação, destaco como méritos do livro o fato de mencionar aqueles que a história não prestigiou. Dizer que a história se lembra apenas dos "campeões" é uma bobagem, mas de fato, estes têm muito mais destaque na mídia em geral. 

A importância das mulheres na programação e computação (acreditem, sem elas não estaríamos aqui utilizando a web) e a narrativa de como uma equipe capitaneada por um físico e um químico foi capaz de conceder o transístor (componente vital para a revolução que viria a seguir) merecem ser lembradas também. 

Durante a leitura podemos ver também como o ambiente colaborativo é propício para a inovação (estruturas que permitem encontros casuais entre pessoas de diferentes setores ou um cafezinho entre amigos no momento de descanso), O Bell Labs já utilizada este conceito e Steve Jobs reproduziu esta mesma ideia no último Campus da Apple que projetou, acreditando que um ambiente que permite estes encontros, torna-se um ambiente para a inovação. 

Por último ressalto a importância que é dada entre a intersecção da ciência e com a arte, mostrando que estas tem muitos mais em comum do que imaginamos e que muitos dos grandes inovadores, eram apreciadores de ambas.

Muitos destes assuntos merecem posts apenas sobre eles e espero poder trazê-los em breve, até a próxima! Abaixo alguns cientistas destacados no livro, além do link para a compra do mesmo (não, não estou recebendo nada, quem dera...)

Cia das Letras - Os inovadores

Ada Lovelace - Poderíamos dizer que ela foi a primeira programadora?

Alan Turring - Matemático e pioneiro nas disucussões sobre inteligência artificial

William Shockley - Um dos chefes da equipe do Transístor

John Atanasoff - Físico e um dos pioneiros da computação, porém a história não foi muito grata a ele

A ciência em Hollywood

Recentemente temos tido um pequeno boom em como a ciência é vista na cultura Pop. Ano passado tivemos o ótimo (mas não perfeito) "Interstellar" de Cristopher Nolan (Batman, A Origem) e este ano o também muito bom "Perdido em marte" do consagrado Ridley ScotT (Alien, Gladiador). No Óscar deste ano tivemos: "A teoria de Tudo", sobre o físico Stephen Hawking e "O Jogo da Imitação" sobre o matemático Alan Turring concorrento fortemente (a academia adora biografias) em diversas categorias. Para nós, amantes da ciência, é muito bom que ela seja levada ao grande público... ou será que não?


Imagem 1: Benedict Cumberbatch como Alan Turring



Falar de ciência para quem está no meio acadêmico nem sempre é fácil e quando ela é levada  para fora deste meio, nos chamados espaços informais (cinema, tv, teatro...) a dificuldade é maior ainda e a isso deve ser feito de forma muito cuidadosa, pois o poder da mídia de criar uma ideia (seja ela "certa" ou "errada") é muito grande. Temos aqui que ressaltar que um filme de ficção científica (os dois primeiros acima citados) não tem por função ficar restrito ao conhecimento científico vigente. Estes filmes procuram estabelecer uma lógica interna que dê respaldo aos acontecimentos.  Já as biografias (os dois últimos acima citados) tem por função ser o mais fiel possível a história.

Embora não haja um consenso entre os acadêmicos sobre a validade deste tipo de material na divulgação científica, é nítido que ele desperta o interesse de uma grande parte de seus espectadores para ir em busca de conhecimento científico. Soma-se a este fator, os tons cada vez mais maduros e realistas que a linguagem cinematográfica vêm assumindo e temos o nosso boom sobre filmes que tratam de ciência de uma forma séria. Para este tipo de filme, que se vende como realista, ressalto aqui dois grandes perigos:

- Os Erros conceituais

- Os Estereótipos

A fim de se resolver o primeiro tipo de erro, os produtores de cinema tem investido cada vez mais na consultoria de especialistas e no acompanhamento durante a produção de um filme/série.  Veja por exemplo Kip Thorne que acompanhou o processo de criação de Interstellar. O Buraco negro mostrado no filme é muito parecido com o que os cientistas acreditam ser um buraco negro real. Ele foi gerado através de cálculos matemáticos e não se trata apenas de animação ou conceitos artísticos. Apesar dessa fidelidade toda, alguns efeitos foram desconsiderados nas simulações para não confundir o público. Portanto não é exatamente o Buraco Negro mais realista que iremos ver ou vimos.

Perdido em Marte teve a NASA como sua consultora (só eu notei o "propagandismo" do filme?), além de ser lançado na semana em que a própria agência espacial divulgou notícias em relação a Marte.


Imagem 2: Matt Daemon é abandonado em Marte

Estes são apenas alguns exemplos que mostram como a arte, o entretenimento e a ciência podem andar juntos. Portanto, com um bom investimento e seriedade podemos minimizar ao máximo os erros conceituais de um filme/série que pretende abordar a ciência de forma séria. Mas e quanto ao segundo problema? Como trabalhar personagens e situações para que não sejam cartunescas ou mesmo estereotipadas, levando uma ideia errada para o grande público? 

Diferente do que muitos pensam a ciência é uma produção completamente humana, portanto os "fazedores de ciência" não são super-humanos e nem sempre gênios que possuem insights o tempo todo. Tão pouco precisam ser egocêntricos ou problemáticos, ou os famosos "esquisitões".

Imagem 3: o esquisitão inteligente de The Walking Dead, Eugene

Acima de tudo, seja em biografias ou filmes de ficção estamos falando de seres humanos, com tendências, crenças e uma história de vida. Mostrá-los sempre como estereótipos ou clichês cria no público uma ideia errada sobre aqueles que estão envolvidos com a produção científica.

A cena que já virou meme na internet com Matthew Mcconaughey's reagindo a uma situação em que a relatividade é abordada de uma forma plausível científicamente e extremamente humana foi uma das cenas mais emotivas que presenciei nas telinhas em 2014 (Depois disso a reação de Matthew é usada em qualquer trailer de cinema como sátira, veja abaixo)





Pode parecer contraditório, mas muitas vezes o maior problema que os filmes sobre ciência encontram não está relacionado à própria ciência e sim à parte humana.



Referências




Ficção científica 


Nasa em "Perdido em Marte" 






O Palmeiras e Galileu

Ora, mas o que teria em comum o clube de Futebol Sociedade Esportiva Palmeiras com o grande cientista Galileu Galilei? Além das origens italianas?

Pois bem, o Palmeiras protagonizou este ano dois belos lances em duas partidas de futebol (contra um grande rival e um deles foi recente, o que me motiva a escrever, já que sou Palestrino). Vejam por si mesmos:








É um lance de rara felicidade (O Gol que Pelé não fez), mas que ocasionalmente acontece para nosso deleite visual. 

E quanto a Galileu? Pois bem, sabemos que a ciência utiliza-se de modelos teóricos para construir aproximações que nos permitam compreender os fenômenos da natureza. E coube a Galileu desenvolver um modelo que nos permite estudar a trajetória (atribui-se a Galileu o que se chama de "princípio da decomposição dos movimentos"). 

De forma simplificada: No colégio aprendemos a estudar o movimento retilíneo uniforme, o movimento uniformemente variado e o movimento circular uniforme

A principal diferença entre os dois primeiros é a presença da aceleração ( o que acarreta em uma mudança de velocidade). Já o terceiro está relacionado a uma trajetória completamente circular devido a presença de uma força que aponta para o centro (a força centrípeta)

Sabemos que os movimentos podem ser dos mais diversos tipos, misturando todos estes citados e descrevendo trajetórias mais complexas. Pois bem, o movimento da bola no chute de Robinho descreve uma trajetória específica, uma parábola (lembram-se dessa palavra ao estudar equações de segundo grau? Ou mesmo da curva formada pela antena parabólica?)



Este tipo de lançamento é chamado de lançamento oblíquo, e podemos aplicar o princípio da decomposição dos movimentos de Galileu, ele diz que podemos subdividir este movimento em dois movimentos:

- Vertical: Sujeito a aceleração da gravidade (assim como o lançamento simples de uma moeda em linha reta para cima)

- Horizontal (não sujeito a aceleração da gravidade e portanto uniforme)

Utilizando técnicas de decomposição vetorial e trigonometria (o que não é o foco do texto) podemos determinar as velocidades: Vertical e Horizontal. 

v1,v2...v5 representam a velocidade resultante do movimento (antes de serem decompostas), as outras são as componentes, utilizando a trigonometria no triângulo retângulo
Sabemos que a velocidade na horizontal não irá mudar (desprezando o atrito com o ar e eventuais "imprevistos" na situação estudada - Um zagueiro interferindo por exemplo), pois não está sujeita a nenhuma aceleração, e conhecemos a forma como a velocidade na vertical irá mudar (dada a aceleração da gravidade na terra), pois são conhecidas as equações do movimento uniformemente variado. E tem mais, o tempo para os dois movimentos é o mesmo, pois ambos acontecem simultaneamente. 

Recheados de tantas informações e conhecendo por exemplo a velocidade inicial do lançamento e o ângulo do chute, podemos determinar: O ponto mais alto da trajetória, o tempo que a bola leva para atingir este ponto, tempo que ela demora para voltar ao solo, o tempo total do movimento... Podemos também determinar o alcance deste chute. Vejam como podemos estudar detalhadamente uma situação cotidiana, usando recursos que aprendemos no colégio!

E visando fazer esta conexão com nosso dia a dia a UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá) em seu vestibular de 2010 transformou outro gol do Palmeiras (dessa vez de Diego Souza e de uma distância ainda maior) em uma questão de seu processo seletivo, veja:

"Num jogo do campeonato brasileiro o jogador do Palmeiras, Diego Souza, fez um belo gol no time do Atlético Mineiro chutando a bola desde o meio do campo. Supondo que no momento do chute a bola estivesse em contato com o solo e a uma distância de 54 m do ponto onde ela tocou o chão, já dentro do gol atleticano, calcule a altura máxima atingida pela bola em sua trajetória. Despreze o atrito com o ar, considere que a duração do vôo da bola tenha sido de 3,0 s e que g = 10 m/s²"

Veja uma matéria que o Globo Esporte fez na época, clicando aqui

O foco do Blog não é a resolução de exercícios, mas vejam como uma situação inteligente e próxima à realidade dos estudantes pode despertar muito mais interesse do que exercícios abstratos e sem contexto. Em breve podemos falar deste exercício de novo ;)

E ai vovô Ceni, será que você faltou as aulas de movimento oblíquo? E o Robinho será que tirava dez? Será que esse ano teremos mais Palmeiras no vestibular? 

Até a próxima!

Referências

Gabarito UNIFEI 2010 [1]

Lançamento Oblíquo [2]




Ah, a gradução!

Trinta e um de outubro de 2013. Essa é a data da última postagem deste blog. E antes que os dois anos em branco fossem completados, eis que um post novo surgiu por aqui. E desta vez, um post um pouco mais pessoal e talvez até sentimental. Nestes quase dois anos, muita coisa mudou. Descobertas em física, mais um Nobel, avanços tecnológicos e este que vos escreve agora faz parte dos aproximadamente 25% dos licenciados em física que se formam anualmente. A informação foi retirada de um artigo no Site da sociedade Brasileira de Física (que pode ser acessado nas referências):

"Em estudo realizado pela SBF, coordenado por Shirley Gobbato, foram consultadas 30 das maiores instituições do País e verificou-se que em 2006 tivemos 3918 estudantes matriculados no semestre inicial. Entretanto, em 2005 essas instituições só formaram 520 licenciados. Ignorando a – provavelmente pequena – variação no número de ingressantes, concluímos que esses cursos apresentam uma evasão de 85%"

Dados do INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais) mostram que estamos formando cerca de 900 professores/ano. Alguém falou em crise na educação? Esta discussão fica fica para um próximo post.


Gráfico 6.1 da referência 1


O objetivo deste texto é compartilhar um pouco da experiência e da vivência que estes seis anos de UNESP (sim, eu sei que deveriam ser quatro -_-) trouxeram para mim.

Contextualizando: A UNESP de Bauru atualmente oferece as modalidades de licenciatura e bacharel (em 2010 quando entrei não). Portanto, vou focar na licenciatura que é onde estive.

Nota-se que o curso foi montado para atender a um perfil de estudante que também trabalha. Pois a grade é noturna e no período da manhã inclui apenas os Sábados. E o meu Perfil, era exatamente este!

Tive contato com a física na oitava série (atual nono ano) e enfiei na cabeça que queria este curso. Passei pelo técnico em informática no colegial (que não me fez mudar de ideia) e comecei a adquirir familiaridade com os números e a lógica (mas isso não me impediu de sofrer, sempre tenho dificuldade com a matemática). Isso fez com que no meio de 2010, após um bom primeiro semestre eu já estivesse trabalhando. E ai vieram elas, as DP's: Primeiro o cálculo II, até ai nada demais, alguns colegas já desistiam do curso, outros se destacavam e eu como sempre estava bem no meio, nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. 

Vamos aproveitar este breve resumo para apontar alguns motivos para tamanhã evasão no curso de física:

- Dificuldade dos alunos em acompanhar as disciplinas e alto índice de reprovações (Ah, os cálculos!)

- Pouca dificuldade para entrar no curso (de acordo com o INEP, o índice de desistência de cursos de Medicina é de apenas 4%)

Explicando: Imagine um adolescente confuso, com um pouco de dificuldade em exatas, um curso com concorrência entre 2 e 3 por vaga e voilà! Temos algumas explicações para apenas 900 professores por ano. Posso ir mais longe: A falta da regulamentação da profissão de físico (agora incluindo nossos colegar do bacharel), o sucateamento do ensino e a desvalorização do professor. Pronto, começamos a entender porque estamos com um índice pouco mais de vinte vezes maior que nossos colegas médicos.

Mas que diabos tem de bom neste curso? Meus amigos, digo de boca cheia que a licenciatura em física foi uma das melhores escolhas dos meus breves vinte e três anos. Sempre fui muito identificado com humanidades e com ciências. A licenciatura me permitiu estar com os pés nas duas áreas, bem onde eu queria. 

Filosofia e História da Ciência, Psicologia da Educação e até mesmo as enfadonhas e chatas Metodologias, todas me trazendo um referencial teórico absurdamente rico! Me lembrando que as equações e que as integrais e os modelos teóricos, deviam conversar com as pessoas! 
Ouvi uma certa vez  (e eu assino embaixo): "As pessoas mais interessantes, estão nas intersecções entre as áreas". E a experiência com a licenciatura me mostrou isso e me permitiu provar um pouco disso.
Ainda não peguei o meu =(

Depois veio o segundo ano, o tiro de guerra, mais reprovações, mais trabalho, o blog, o livro Zen e a arte da manutenção de Motocicletas (Robert Pircig, 1973 - Este me fazendo redescobrir o amor pela ciência a cada vez que leio). Sem falar é claro, nas amizades, nas festas, nas madrugadas estudando, nas notas raspando, no medo de perder o curso... Ou seja, uma grande aventura!

Ao fim desta passagem, eu quero mais! Quero lecionar, quero estudar quero incentivar pessoas a se formar, quero falar de ciência, quero ver pessoas falando de ciência, pois afinal eu não entendo como tantos podem viver na ignorância de não tentar entender como funciona o mundo. Não Cypher! A ignorância não é uma benção! (Alguém falou em Matrix?).

Um curso extremamente trabalhoso, desvalorizado, porém gratificante e rico. É assim que vejo a graduação em física. Um muito obrigado pela paciência de cada professor (dos mais ranzinzas aos mais paciente). Um muito obrigado a cada um dos colegas de classe que fez parte desta trajetória, seja por um semestre ou por anos.


E que venha mais!

O Blog está de volta! 


Referências (acessadas em 08/09/2015)


http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/vida-na-universidade/ufpr/as-graduacoes-campeas-de-desistencia-26khijqty1gurtas1veawhyz2 -1

http://www.sbfisica.org.br/v1/arquivos_diversos/publicacoes/FisicaCapes.pdf -2