Mundo da Lua

Antes tarde do que nunca! O último post deste blog trata de um filme que aborda a chegada do homem a lua (First Man, 2018). Pois bem, No último dia 20 completamos cinquenta anos daquele que foi um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade. Na internet não faltam textos, vídeos e podcasts deste que foi de fato um dos grandes acontecimentos do século passado (No fim do texto separei algumas referências).

Portanto, este texto tem como objetivo uma pequena reflexão sobre nossas grandes  realizações positivas através da ciência e sobre o potencial destrutivo que existe em desacreditá-las.

Existe um movimento anti-científico que vem ganhando força, não só no Brasil, mas também no mundo. O que seria isso? Estamos diante de uma nova era das trevas? Ainda não, mas as perspectivas não são nada boas...

Segundo o instituo Datafolha, 1 em cada 4 brasileiros não acreditam na ida do Homem à lua e 7% dos brasileiros acreditam na conspiração da terra plana e por ai vai. Poderíamos falar aqui de movimento anti-vacina, negação do aquecimento global, etc.

Tratando-se apenas de Brasil, não faltam "pautas" anti-científicas: Negação do desmatamento na Amazônia, ministros da ciência desmentindo institutos científicos, universidades públicas sendo  desacreditas, ministros da educação dizendo que não são pessoas públicas, conspiração comunista e por ai vai... Realmente não está fácil este 2019 (a gente sabia que ia ser ruim, mas...).

Mas, voltemos ao primeiro parágrafo. Eu me pergunto e proponho que você leitor, faça o mesmo. O que será que estes astronautas, (deste da imagem até os que realmente foram para a Lua, ou mesmo os que "apenas" orbitaram a Terra) sentiram ao olhar aqui para baixo? Aqui neste lugar onde os habitantes tentam se destruir há tanto tempo e mais andam para trás do que para frente. Será que sentiram medo? contemplação? solidão? gratidão?

Eu jamais me atreveria a responder e talvez nem os próprios saibam descrever... Mas acredito que o ser humano busca se entender e saber qual é o seu lugar, isso desde sempre. Uma experiência transformadora como sair do nosso pontinho azul (nem que seja por alguns minutos) e olhar a vizinhança para perceber que existe muito mais para explorar e conhecer, com certeza ajuda a entender um pouco mais quem somos. Buscar o entendimento do que é ser humano para aqueles astronautas, e buscar se entender como espécie para o resto de nós.

Talvez a solução seja exatamente esta para nos entendermos individual e coletivamente... O espaço, o silêncio,  o vácuo que impede que o som se propague e cale todas essas vozes que estão  guerreando,  conspirando e brigando... Assim, quem sabe possamos contemplar aquela pequena vela de conhecimento na escuridão da ignorância que se aproxima...

Referências

Pesquisa Datafolha (O Globo) - https://oglobo.globo.com/sociedade/datafolha-1-em-cada-4-brasileiros-nao-acredita-que-homem-foi-lua-7-acham-que-terra-plana-23811192


A Conquista da Lua - Parte 1 (SciCast) - https://www.deviante.com.br/podcasts/scicast-330/

Como os EUA chegaram à Lua (BBC) - https://www.youtube.com/watch?v=oZTlnZWfyY8

O Primeiro Homem


First Man (2018)
"O primeiro homem" (First man, 2018) estreou no Brasil em Outubro de 2018 e eu não tinha criado coragem de escrever sobre este que é um dos meus filmes preferidos do ano passado. Após ver mais ou menos umas quatro vezes e começar a ler a biografia que inspirou o filme (O Primeiro Homem: A vida de Neil Armstrong, Editora Intrínseca), decidi que era a hora.


Como sempre digo quando falo de ficção científica neste humilde blog, mostrar o lado humano da coisa é sempre um desafio. É claro que mostrar situações coerentes e tratar a ciência envolvida com respeito é de suma importância e é o mínimo que se espera de um filme que quer ser levado à sério. Porém, como dito, isso é o mínimo e muitas obras alcançam tal feito. O que diferencia um sci-fi mediano de um bom sci-fi é quando ele une os dois mundos: Ciência séria e personagens com humanidade. E neste ponto "First man" (que não chega a ser exatamente um sci-fi, mas está bem perto) acerta em cheio ao focar praticamente o filme todo na personalidade de Neil Armstrong (Ryan Gosling) e nos bastidores da primeira missão tripulada à lua.


"O Programa Apollo nasceu em 1961 para suceder os programas Mercury e Gemini, tendo esse primeiro desempenhado o papel de desenvolver as tecnologias e os recursos necessários para lançar naves tripuladas para fora da atmosfera terrestre, e o segundo, a missão de explorar os meios cabíveis de conduzir astronautas até a Lua. O Programa Apollo, portanto, coroou os esforços de seus antecessores". (Brasil escola)

Em uma época onde o formato da terra é questionado sem o menor embasamento, um filme como este é de extema importância para despertar interesse em questões importantes de nossa história recente. Não que ele vá convencer os terra planistas a mudar de ideia, mas vários elementos importantes estão presentes ali. Vou destacar três:

- O contexto da corrida espacial e armamentista que permeeou toda uma geração.

- A pressão da população e de parte da mídia que enxergava no programa um desperdício de recursos públicos.

- A vida dos envolvidos e seus familiares.

Sobre o primeiro ponto é interessante notar como a trinca ciência, tecnologia e militarismo andam sempre próximas umas das outras. Não fosse a competição com a União soviética, quantos anos teríamos levado para investir tanto numa missão como essa? Ao mesmo tempo o segundo item é quase paradoxal em relação ao primeiro, deixe-me explicar: Quando a população e a mídia não enxergam o "retorno" que a ciência traz, são gerados questionamentos e decisões equivocadas são tomadas por parte de nossos governantes (não é mesmo senhor presidente do Brasil? Daqui alguns anos vamos ver o buraco em que nos enfiamos).

A obessão por vencer a guerra fria, misturada com o progresso resultante da missão aliada a boa e velha curiosidade humana foram o suficiente para vencer as críticas a todo o investimento e vidas empreendidos no programa espacial que teve seu momento mais delicado no acidente ocorrido em 27 de janeiro de 1967, o qual vitimou os astronautas Roger B. Chaffee, Edward H. White, II e Virgil "Gus" Grissom. Na ocasião um curto-circuito no interior da cabine causou um incêndio no cockpit (ainda em solo) matando toda a tripulação. Este fato colocou o programa em risco e atrasou em vários meses as missões seguintes (a ocasião é muito bem retratada no filme entre cenas de protesto e coletivas de imprensa).




Vídeo: O acidente que quase acabou com o programa Apollo


E por último mas não menos importante, o arco dos personagens. Onde temos a humanidade dos mesmos sendo retratada de forma bem natural. Neil Armstrong é um homem calado que amargura um trauma pessoal, possui a sensibilidade e a obsessão para comandar uma missão deste tamanho, mas ao mesmo tempo não consegue mostrar a mesma sensibilidade diante dos filhos e dos amigos (todos os méritos ao Ryan Gosling que se tornou o maior especialista em personagens do tipo caladão e cheios de conflito. Drive está ai para comprovar). Destaque também para sua esposa, Janet Shearon (Claire Foy) que jamais faz o papel da "donzela em perigo" e é mostrada como uma mulher forte, capaz de criar os dois filhos, suportar a pressão de ter a família envolvida em algo tão grandioso (detalhe para a cena onde figurões da NASA levam uma verdadeira bronca).

O filme pode acabar assustando os desavisados devido ao rítmo lento e a falta de diálogo, mas nada que comprometa a experiência. Também é inevitável que em filmes deste tipo vários acontecimentos importantes fiquem de fora e diversas situações sejam reimaginadas, mas com certeza os 50 anos da missão Apollo 11 estão bem representados em um uma obra tecnicamente competente (Oscar de melhores efeitos visuais) sobre um tema relevante e acompanhado de uma bela música tema (entoada magistralmente na cena do pouso, mais detalhes sobre a música aqui no ótimo vídeo do canal Isac Ness).


Fontes

https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/programa-apollo.htm
http://apollo1.spacelog.org/
https://www.themoviedb.org/movie/369972-first-man

Marionetes


"Todo ano o brasileiro é pego de surpresa pela chuva NA MESMA ÉPOCA DO ANO", ouvi esta frase no excelente podcast "Pontapé" da central3 (recomendíssimo) quando a pauta eram as tragédias e as dificuldades que foram estes primeiros, até então, quarenta e dois dias do ano.

E de fato têm sido. Não é necessário noticiar ou repercutir aqui tudo que vem acontecendo em solo Tupiniquim. Mas de fato fiquei pensativo com duas coisas:

- Como a informação é levada às pessoas

- Como estamos inseridos em um contexto sobre o qual não temos o menor controle

Sobre o primeiro ponto, é fato que o que mais temos vistos por ai, não só no Brasil, mas em todo o mundo são desinformações, inverdades, teorias da conspiração e por ai vai ... E talvez por isso, após no mesmo Podcast ouvir sobre a morte de Ricardo Boeachat e também de ver este vídeo do canal meteoro Brasil, eu tenha me abatido ainda mais. Cientistas e Jornalistas compartilham de um ideal para com a verdade. Perder alguém que se propunha a cumprir isso, seja você profundo admirador de seu trabalho ou não, é de fato muito triste. Ainda mais em tempos onde a busca pela verdade tem sido cada vez mais deixada de lado.

E ai chegamos ao segundo ponto: Não podemos controlar tudo o que acontece, mas podemos controlar nossas reações e também a forma de consumir a informação, que infelizmente se tornou um produto. Questionar, buscar fontes, interpretar, debater não são apenas atribuições de jornalistas e cientistas e sim dos próprios seres humanos que sem esta capacidade jamais teriam progredido o quanto progrediram. Por mais que nossa espécie venha falhando constantemente, é admirável termos chegado na lua ou até mesmo enviado uma música do Chuck Barry para o espaço. Compreender o mundo que nos cerca através do senso crítico é uma dádiva, mas será que não estamos desperdiçando tal talento?

Quem tem conhecimento e poder, opta pelo segundo. A engrenagem gira, o povo se mantém ignorante e as tragédias se repetem. Quem tem conhecimento sem poder muitas vezes parte para o ostracismo mediante sua própria falta de controle sobre os fatos. Nos dois casos, quem tem o conhecimento não o compartilha, o que alimenta o ciclo de ignorância e impotência.

É possível quebrar este ciclo?  apenas uma questão de idealismo? O conhecimento que buscamos no início de nossas faculdades ou jornadas profissionais são maneiras de empoderamento ou apenas ocupam nosso tempo e mente enquanto nos fazem ter consciência do quanto estamos fadados a ser seres reativos?

Enquanto a resposta não chega, a boa velha busca pela verdade segue sua jornada visando satisfazer uma das mais belas características de nossa espécie: A curiosidade.

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"Todos nós somos Marionetes Laurie, sou apenas a marionete que vê as cordas" - Dr Manhattan (Watchmen).