Ciência com Homem Aranha

Que a ciência  é prato cheio para as mais diversas ficções seja em quadrinhos, filmes ou séries, já é sabido por nós. Que Tony Stark, Bruce Banner, Reed Richards são cientistas incrivelmente geniais em seus mundos fantasiosos também sabemos. Portanto é normal que vez ou outra tenhamos histórias em quadrinhos ressaltando este lado de seus protagonistas, e eis que umas semanas atrás, me deparei com este texto sobre Marvels Spiderman que mostra um Peter Parker ainda no colégio e altamente interessado pela ciência. E é claro que fui conferir e gostei muito do que vi.
Não que este lado do herói nunca tenha sido explorado, afinal nosso amigo aracnídeo sempre foi do tipo nerd, estudioso e inteligente. Apesar das mais diversas roupagens nos últimos anos (o nerd estilo anos sessenta, o geek versão anos dois mil e agora o moleque de colégio), acredito que esta faceta não havia sido explorada desta maneira. Aqui temos um Peter Parker que se destaca e consegue vaga em uma escola para jovens acima da média (óbvio que por se tratar de um desenho para crianças, temos aqui os exageros e as bugigangas tecnológicas) trabalhando com um cientista extremamente renomado e com colegas que fazem pesquisa de ponta (todos do alto de seus 15, 16 anos). Apenas este fato já nos dá uma boa discussão, pois Peter não tem dinheiro para bancar seus estudos e a vê a tia viúva em vários empregos tentando ajudá-lo. Além do fato de que o próprio consegue um estágio no laboratório de Max Modell, o gênio fundador da escola. Bom, tirando o exagero típico de desenhos, temos aqui a realidade de alguns jovens que precisam trabalhar pra manter seus estudos, fazem as famosas iniciações científicas (que de uns anos pra cá são possíveis também no ensino médio) e sonham em se tornar pesquisadores de renome, ou ao menos aprenderem algo para suas vidas e profissões. A DIFERENÇA é que no universo do desenho existe uma grande valorização destes sonhos seja pelos heróis (como o Homem de Ferro organizando uma feira de ciências), pelo magnatas da cidade (fundando escolas concorrentes) ou pelos vilões (roubando tecnologia de ponta). Mas quem realmente acredita nisso são os jovens cientistas que parecem gostar e se divertir muito com aquilo, e mais: Estão sempre aprendendo que a tal dá ciência vai além de fazer contas, experimentos e artigos. Ela envolve questões éticas, morais, políticas e humanas. E nada tao humano como um simples desenho do amigão aracnídeo dá vizinhança para nos lembrar disso ;)

Veja mais em:

http://judao.com.br/marvels-spider-man-e-o-lado-mais-nerd-de-peter-parker-nos-ultimos-anos/

Tabu


Se você fizer uma rápida pesquisa nas inter webs da vida pela palavra tabu provavelmente vai se deparar com alguma notícia relacionada ao futebol. Até ai nenhum problema, o pessoal do esporte adora essa palavra. E não se preocupe, se o seu time enfrenta o tabu de não vencer determinado time faz 237 anos, uma hora isso vai cair. O meu enfrentava o tabu de não ser campeão brasileiro há 22 anos e o tabu caiu, ou seja, paciência ¯\_(ツ)_/¯

O problema são os tabus fora dos esportes, nem sempre a paciência será o suficiente para derrubá-los, pois pela própria definição de tabu eles são proibidos de serem discutidos... E ai meu amigo, sem discussão fica difícil. Sabe aquela velha história: religião, política e futebol não se discute? Besteira. Escolha de time não se discute, esquema tático, sim. Fé não se discute, papel da religião na vida das pessoas, sim. Preferência política não se discute, corrupção e planos de governo, sim. Tudo é passível de discussão.


Discutir não significa brigar, fonte da imagem aqui


Mas como tudo neste 2017 parece regredir, eis que vejo uma reportagem  dizendo que o MEC decidiu retirar das escolas o livro “Enquanto o sono não vem” de José Mauro Brant, devido ao conto "A triste história de Eredegalda".

De forma resumida: Um rei pede a filha que se case com ele ou ela morrerá, a filha prontamente recusa e é trancafiada (O livro se baseia em vários contros populares do folclore brasileiro).

Trecho do conto (Retirado do G1)


Uma rápida contextualização: O livro foi selecionado no processo PNLD/Pnaic em 2014, no então governo de Dilma Rousseff, para isso foi avaliado e aprovado pelo Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.


Em parecer oficial (linkado ao final do texto), o MEC diz que o tema não é adequado para crianças desta idade e diz também que todo o programa está sendo revisto.


Que o governo está reformulando tudo, Concordando ou não, nós sabemos. Mas duas coisas me intrigam:


- Não discutir um assunto tão comum na realidade de muitas crianças brasileiras: A violência doméstica


- Querer passar um pano no programa de seleção de livros


Para os mais conservadores é um absurdo crianças terem contato com este tipo de assunto, mas para eles deve ser perfeitamente normal elas verem o pai bêbado batendo na pai e não terem a menor ideia do que fazer. Em vez de proibir e recolher o livro para agradar falsos moralistas, não seria melhor orientar nossos professores para trazer uma discussão proveitosa para sala de aula e eventualmente orientar crianças que passam por problemas similares? 

E sobre o segundo ponto: Parece uma birra para desfazer ações de governos anteriores (com um PUTA viez ideológico).

É realmente necessário? É esse o problema do país?  Como confiar assuntos que envolvem moralidade a um bando de corruptos? Nosso ministro da educação foi citado lá em 2009 em uma operação da polícia federal, culpado ou não, devemos ficar de olho.

E nesses tempos de tabu e falta de discussões, poucas coisas nos abrem os olhos, mas tenha certeza de que o pensamento científico é uma delas. Pensar em ciência é muito mais do que equações e contas, é liberdade. Portanto, vamos nos libertar de tabus na sociedade e mantê-los no esporte, pois uma hora eles caem.

Referências

Artigo que inspirou o texto

http://veja.abril.com.br/educacao/livro-recolhido-pelo-mec-nao-e-apologia-do-incesto-e-seu-oposto/

Parecer oficial do MEC sobre o assunto

http://portal.mec.gov.br/busca-geral/211-noticias/218175739/50011-mec-recolhe-das-escolas-o-livro-enquanto-o-sono-nao-vem

Notícia sobre o caso no G1 (vejam como o título cretino)

http://g1.globo.com/espirito-santo/educacao/noticia/livro-infantil-cita-casamento-entre-pai-e-filha-e-prefeitura-de-vitoria-diz-que-vai-retirar-obras-das-escolas.ghtml

O tal do senso crítico


Se você visitou este blog algumas vezes deve ter notado que o assunto cinema é algo recorrente neste espaço. Um aspecto do cinema que me chama atenção, é o papel de um cara que é quase tão odiado quanto o juiz de futebol: O CRÍTICO.

Vira e mexe eu vejo algo por ai nas internets de que fulano de tal falou que tal filme não é para os críticos e sim para os fãs, o último foi nosso querido Rei Arthur.

Não vamos entrar no mérito de que segundo ele os "críticos têm uma vida patética", mas vamos ampliar o espectro para fora do cinema e nos perguntar:


O que diabos significa ser crítico?

 
The Critic (1994): o estereótipo Mór dos críticos


Fazendo aquela pesquisa marota, resolvi destacar alguns significados da palavra "crítica":

- Que faz a análise de; analítico.

- Pessoa que condena: ele se tornou um crítico impiedoso.

- Que censura, deprecia, desaprova.

- Que avalia competentemente, distingue o verdadeiro do falso, o bom do mau etc.


Interessante notar que a mesma palavra é usada para definir alguém que "avalia competentemente" e alguém que "condena". Sim, as pessoas disparam uma gatilho e logo relacionam a crítica com o apontamento de defeitos. Ora, uma avaliação competente deve apontar defeitos não deve? O engenheiro que avalia uma construção precisa ser crítico ou a edificação vai desmoronar. O cientista que está estudando um fenômeno da natureza precisa ser crítico para não ser ludibriado pelos resultados. E digo mais: A comunidade científica precisa ser crítica a ponto de avaliar rigorosamente a produção de conhecimento... Não é assim que a ciência funciona há séculos? Teste duplo cego, avaliação por pares, reprodução de experimentos, aquela história toda.

Não pense você que o cientista e o crítico de cinema falam nesse tom analítico porque eles são rabugentos (também, mas não é por isso), eles estão apenas aplicando o senso crítico, analisando e julgando baseado-se em evidências, teorias, fatos, argumentos... Indo além do senso comum que muitas vezes acaba nos ludibriando.

O senso comum jamais deve ser desprezado, ele existe por algum motivo e é justamente o senso crítico que nos permite não ser enganado pelo senso comum e também pela má fé. Não aceitar qualquer notícia na TV, não aceitar qualquer porcaria no cinema, não se deixar enganar por pseudociências que prometem e vendem sonhos e por ai vai...

 A diferença é que por mais bem argumentada que seja uma crítica de cinema, nela sempre existirá o aspecto subjetivo, a opinião. Enquanto o cientista, não pode se dar a este luxo. Outra diferença importante é que se fosse não tiver senso crítico para o cinema, no máximo você vai achar coisas como "Crepúsculo" uma maravilha, e se você vive sua vida sem senso crítico...Bem, você aceita coisas como: astrologia, terra plana, "aquecimento global não existe", "vacinas não funcionam", "o homem não foi à lua"...  ¯\_(ツ)_/¯





Referências






A dificuldade da comunicação em "A chegada"


Alguém chega em você e diz: Ei fulano, você que é formado em tal coisa (física, química, matemática,biologia...) resolve isso pra mim (como se fosse um passe de mágica)?

É uma cena familiar?

Você que estudou durante alguns anos alguma área do conhecimento, chega a encarar quase como um desaforo? "Ele tá achando que é fácil assim?"

Pois bem, é isso o que acontece em uma das cenas iniciais de A chegada (Arrival,2016) onde um militar pede para a linguista Louise Banks (a nossa musa e amada Amy Adams) "decifrar isso ai" após colocar sobre a mesa uma gravação de ruídos produzidos por seres extra terrestres. Fácil né?




Creio que só neste trecho, poderíamos fazer uma ampla discussão sobre como as pessoas NÃO compreendem a metodologia científica. Mas como o objeto de discussão do filme é a própria linguagem, vamos analisá-lo como um todo.

A cena consiste em duas pessoas olhando para o mesmo objeto, diante do mesmo contexto e chegando a conclusões completamente diferentes.

Militar: Decifra esses barulhos ai porque eu tenho que dar satisfação para a mídia. Como diria o sargento da época em que eu fiz tiro de guerra: "Te vira Negão".

Linguista: Alienígenas? É sério? Que padrão eles usam? Será que possuem alfabeto? São inteligentes? Quanto tempo até estabelecermos um padrão de comunicação?

Uma outra situação em que isso é muito comum é essa aqui:




Cena do filme "A serious man" de 2009

Professor: Resolvam este pequeno problema.

Alunos: Mas que porra é essa?

Duas pessoas, mesma situação e contexto. Conclusões completamente diferentes.

O fato é que a dificuldade em se comunicar é inerente ao próprio ser humano. Somos mentes pensantes diferentes em corpos diferentes e com experiências de vida completamente diferentes. É natural que não consigamos nos entender de vez em quando.

Se já enfrentamos essa situação no nosso dia a dia, imagine quando estamos em discussões específicas sobre áreas específicas como por exemplo uma descoberta em física, biologia, química...

Assim como no caso do militar do filme, muitas vezes é necessário dar uma "satisfação" para as pessoas e ao mesmo fazer isso de forma rápida, simples e com fidelidade ao fato. Nos dias de hoje (não só, mas principalmente) a gente sabe que a parte da fidelidade fica um pouco de lado (Acabo de lembrar da épica coletiva de Eduardo Baptista onde sobrou até para o Trump. O direito constitucional do jornalista proteger a fonte é oooooooooutra conversa).

A discussão sobre jornalismo, divulgação científica e comunicação é enorme, mas de forma simples podemos questionar se estamos realmente interessados em fazer as pessoas nos entenderem (como os visitantes do filme estavam) ou estamos apenas dando de ombros para o que o outro pensa.

Repito a pergunta para você professor (com o aluno), você pesquisador (com o público leigo) e você mãe (com seu filho quando ele não sabe por que RAIOS tem que fazer assim ou assado).

Um certo velho Barbudo que não é o Marx e nem o Papai Noel já nos ensinou que ficar vomitando informação nos outros não é o suficiente.

Analisando um filme como "A chegada" (que tem um físico apenas de enfeite o filme todo. E NÃO, eu não podia deixar isso passar) que usa Alienígenas como METÁFORA para o nosso claro problema de fazer-se entender e que discute os problemas de nossa sociedade através de uma história que tem um pézinho na nossa realidade, não pude deixar de pensar em como algumas vírgulas fora do lugar podem eleger/derrubar um presidente ou explodir uma bomba em cima de nossas cabeças ¯\_(ツ)_/¯

Ainda vamos falar muito da Amy Adams (Dá o Oscar para essa mulher!)... ops, de A Chegada (Isso sim é ficção RAÍZ) e claro de apurar corretamente informações neste humilde blog.



<3

Referências:

Para que serve seu diploma?

Se você que ainda é universitário ou já é formado não se identifica nem um pouco com algumas destas citações, temos duas opções:

1 - Você tem um talento incrivelmente acima da média em sua área de estudo.

2 - Você decidiu não se importar tanto com as formalidades curriculares.

Sou categórico ao afirmar que ao mesmo tempo em que a faculdade é um dos melhores períodos de sua vida, é também um período de extremo cansaço e estresse. Basta vermos a quantidade cada vez maior de estudantes com distúrbios psicológicos e sociais (Veja a quantidade de artigos quando se digita "universitários ansiedade"

"Ah beleza, vou rasgar o meu diploma e vender minha arte na praia..."

Se isso realmente for seu sonho, eu recomendo ;)



Tenho realmente uma admiração impressionante sobre quem consegue viver da própria arte no sentido usual da palavra: Músicos, pintores, atores.... Não vou entrar no mérito de definir o que é arte aqui, pois eu enquadro muito mais categorias além das acima citadas =O

Minha admiração vem do fato de que muitas vezes esses caras estão fora da caixinha que nos é imposta desde quando nascemos: Estude, arrume um emprego/faça faculdade (muitas vezes ao mesmo tempo), case, tenha filhos, arrume outro emprego (para manter o novo padrão de vida), aposente...

Muitos deles não passaram pelo ensino formal, ou abandonaram ou o fizeram e não exercem, enfrentam resistência da família (pois ser artista é pedir pra morrer de fome como diz o Pedra Letícia neste música aqui) e ralam tanto ou mais que quem está no esquema “40h semanais, sexta 18h01 eu odeio meu chefe”.

Este último parágrafo guarda uma grande semelhança com os que seguem a carreira científica (isso porque nem mencionei a falta de direitos trabalhistas, os amigos que ganham o triplo pois estão em carreiras mais “estáveis”, a falta de incentivo do governo, etc.) que está totalmente engessada por diplomas e títulos que servem muito bem ao microcosmo da universidade e da academia, mas fora dela tem tanta serventia quanto o diploma de preparador físico tem para um baterista.

Não me entendam mal, a ciência possui sim um caráter rígido e é esta rigidez
Que nos permite avançar como espécie e sociedade olhando para o que importa e descartando aquilo que não serve. São necessários títulos e diplomas que mostram a área de competência daqueles que analisam as descobertas de seus pares. MAS ESSES PAPÉIS SÃO CONSEQUÊNCIA DE UM PROCESSO DE BUSCA POR CONHECIMENTO E NÃO A CAUSA.

Percebem a inversão de valores? Possuir um diploma de licenciado em física não me torna mais importante do que quem está compondo e tentando tocar nos bares daqui de Bauru. Cada um de nós sente e dialoga sobre a natureza de formas diferentes, temos o nosso papel na sociedade. Assim como tem o gari, a faxineira, o humorista...

Num mundo que nos julga pela nossa produção científica e pelos nossos indicadores somos tentados a nos sentir superiores quando temos boas notas, artigos publicados ou trabalhos apresentados em congressos, mas basta colocar um dos pés para fora desse pequeno mundo acadêmico e a realidade que bate (com força) em nossos rostos é tão difícil quanto a daquele aspirante a ator que está encarando diversos testes para um papel de figurante por cinco minutos em algum filme trash: Prove seu talento e quem sabe te darei uma chance.


Então quer dizer que se eu permanecer no mundo acadêmico com todos os meus diplomas, títulos e papéis eu estou resolvido? Obviamente que não, inclusive tome cuidado para não ser devorado por seus colegas que precisam publicar mais do que você.

Quero apenas que abra seus olhos para o fato de que existe um outro mundo lá fora e que este mundo não faz a menor questão de saber quantas DP’s você tem ou quantos artigos publicou, você tem que provar o seu valor de outras formas e não me pergunte como ¯\_(ツ)_/¯