A dificuldade da comunicação em "A chegada"


Alguém chega em você e diz: Ei fulano, você que é formado em tal coisa (física, química, matemática,biologia...) resolve isso pra mim (como se fosse um passe de mágica)?

É uma cena familiar?

Você que estudou durante alguns anos alguma área do conhecimento, chega a encarar quase como um desaforo? "Ele tá achando que é fácil assim?"

Pois bem, é isso o que acontece em uma das cenas iniciais de A chegada (Arrival,2016) onde um militar pede para a linguista Louise Banks (a nossa musa e amada Amy Adams) "decifrar isso ai" após colocar sobre a mesa uma gravação de ruídos produzidos por seres extra terrestres. Fácil né?




Creio que só neste trecho, poderíamos fazer uma ampla discussão sobre como as pessoas NÃO compreendem a metodologia científica. Mas como o objeto de discussão do filme é a própria linguagem, vamos analisá-lo como um todo.

A cena consiste em duas pessoas olhando para o mesmo objeto, diante do mesmo contexto e chegando a conclusões completamente diferentes.

Militar: Decifra esses barulhos ai porque eu tenho que dar satisfação para a mídia. Como diria o sargento da época em que eu fiz tiro de guerra: "Te vira Negão".

Linguista: Alienígenas? É sério? Que padrão eles usam? Será que possuem alfabeto? São inteligentes? Quanto tempo até estabelecermos um padrão de comunicação?

Uma outra situação em que isso é muito comum é essa aqui:




Cena do filme "A serious man" de 2009

Professor: Resolvam este pequeno problema.

Alunos: Mas que porra é essa?

Duas pessoas, mesma situação e contexto. Conclusões completamente diferentes.

O fato é que a dificuldade em se comunicar é inerente ao próprio ser humano. Somos mentes pensantes diferentes em corpos diferentes e com experiências de vida completamente diferentes. É natural que não consigamos nos entender de vez em quando.

Se já enfrentamos essa situação no nosso dia a dia, imagine quando estamos em discussões específicas sobre áreas específicas como por exemplo uma descoberta em física, biologia, química...

Assim como no caso do militar do filme, muitas vezes é necessário dar uma "satisfação" para as pessoas e ao mesmo fazer isso de forma rápida, simples e com fidelidade ao fato. Nos dias de hoje (não só, mas principalmente) a gente sabe que a parte da fidelidade fica um pouco de lado (Acabo de lembrar da épica coletiva de Eduardo Baptista onde sobrou até para o Trump. O direito constitucional do jornalista proteger a fonte é oooooooooutra conversa).

A discussão sobre jornalismo, divulgação científica e comunicação é enorme, mas de forma simples podemos questionar se estamos realmente interessados em fazer as pessoas nos entenderem (como os visitantes do filme estavam) ou estamos apenas dando de ombros para o que o outro pensa.

Repito a pergunta para você professor (com o aluno), você pesquisador (com o público leigo) e você mãe (com seu filho quando ele não sabe por que RAIOS tem que fazer assim ou assado).

Um certo velho Barbudo que não é o Marx e nem o Papai Noel já nos ensinou que ficar vomitando informação nos outros não é o suficiente.

Analisando um filme como "A chegada" (que tem um físico apenas de enfeite o filme todo. E NÃO, eu não podia deixar isso passar) que usa Alienígenas como METÁFORA para o nosso claro problema de fazer-se entender e que discute os problemas de nossa sociedade através de uma história que tem um pézinho na nossa realidade, não pude deixar de pensar em como algumas vírgulas fora do lugar podem eleger/derrubar um presidente ou explodir uma bomba em cima de nossas cabeças ¯\_(ツ)_/¯

Ainda vamos falar muito da Amy Adams (Dá o Oscar para essa mulher!)... ops, de A Chegada (Isso sim é ficção RAÍZ) e claro de apurar corretamente informações neste humilde blog.



<3

Referências: