Tabu


Se você fizer uma rápida pesquisa nas inter webs da vida pela palavra tabu provavelmente vai se deparar com alguma notícia relacionada ao futebol. Até ai nenhum problema, o pessoal do esporte adora essa palavra. E não se preocupe, se o seu time enfrenta o tabu de não vencer determinado time faz 237 anos, uma hora isso vai cair. O meu enfrentava o tabu de não ser campeão brasileiro há 22 anos e o tabu caiu, ou seja, paciência ¯\_(ツ)_/¯

O problema são os tabus fora dos esportes, nem sempre a paciência será o suficiente para derrubá-los, pois pela própria definição de tabu eles são proibidos de serem discutidos... E ai meu amigo, sem discussão fica difícil. Sabe aquela velha história: religião, política e futebol não se discute? Besteira. Escolha de time não se discute, esquema tático, sim. Fé não se discute, papel da religião na vida das pessoas, sim. Preferência política não se discute, corrupção e planos de governo, sim. Tudo é passível de discussão.


Discutir não significa brigar, fonte da imagem aqui


Mas como tudo neste 2017 parece regredir, eis que vejo uma reportagem  dizendo que o MEC decidiu retirar das escolas o livro “Enquanto o sono não vem” de José Mauro Brant, devido ao conto "A triste história de Eredegalda".

De forma resumida: Um rei pede a filha que se case com ele ou ela morrerá, a filha prontamente recusa e é trancafiada (O livro se baseia em vários contros populares do folclore brasileiro).

Trecho do conto (Retirado do G1)


Uma rápida contextualização: O livro foi selecionado no processo PNLD/Pnaic em 2014, no então governo de Dilma Rousseff, para isso foi avaliado e aprovado pelo Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.


Em parecer oficial (linkado ao final do texto), o MEC diz que o tema não é adequado para crianças desta idade e diz também que todo o programa está sendo revisto.


Que o governo está reformulando tudo, Concordando ou não, nós sabemos. Mas duas coisas me intrigam:


- Não discutir um assunto tão comum na realidade de muitas crianças brasileiras: A violência doméstica


- Querer passar um pano no programa de seleção de livros


Para os mais conservadores é um absurdo crianças terem contato com este tipo de assunto, mas para eles deve ser perfeitamente normal elas verem o pai bêbado batendo na pai e não terem a menor ideia do que fazer. Em vez de proibir e recolher o livro para agradar falsos moralistas, não seria melhor orientar nossos professores para trazer uma discussão proveitosa para sala de aula e eventualmente orientar crianças que passam por problemas similares? 

E sobre o segundo ponto: Parece uma birra para desfazer ações de governos anteriores (com um PUTA viez ideológico).

É realmente necessário? É esse o problema do país?  Como confiar assuntos que envolvem moralidade a um bando de corruptos? Nosso ministro da educação foi citado lá em 2009 em uma operação da polícia federal, culpado ou não, devemos ficar de olho.

E nesses tempos de tabu e falta de discussões, poucas coisas nos abrem os olhos, mas tenha certeza de que o pensamento científico é uma delas. Pensar em ciência é muito mais do que equações e contas, é liberdade. Portanto, vamos nos libertar de tabus na sociedade e mantê-los no esporte, pois uma hora eles caem.

Referências

Artigo que inspirou o texto

http://veja.abril.com.br/educacao/livro-recolhido-pelo-mec-nao-e-apologia-do-incesto-e-seu-oposto/

Parecer oficial do MEC sobre o assunto

http://portal.mec.gov.br/busca-geral/211-noticias/218175739/50011-mec-recolhe-das-escolas-o-livro-enquanto-o-sono-nao-vem

Notícia sobre o caso no G1 (vejam como o título cretino)

http://g1.globo.com/espirito-santo/educacao/noticia/livro-infantil-cita-casamento-entre-pai-e-filha-e-prefeitura-de-vitoria-diz-que-vai-retirar-obras-das-escolas.ghtml

O tal do senso crítico


Se você visitou este blog algumas vezes deve ter notado que o assunto cinema é algo recorrente neste espaço. Um aspecto do cinema que me chama atenção, é o papel de um cara que é quase tão odiado quanto o juiz de futebol: O CRÍTICO.

Vira e mexe eu vejo algo por ai nas internets de que fulano de tal falou que tal filme não é para os críticos e sim para os fãs, o último foi nosso querido Rei Arthur.

Não vamos entrar no mérito de que segundo ele os "críticos têm uma vida patética", mas vamos ampliar o espectro para fora do cinema e nos perguntar:


O que diabos significa ser crítico?

 
The Critic (1994): o estereótipo Mór dos críticos


Fazendo aquela pesquisa marota, resolvi destacar alguns significados da palavra "crítica":

- Que faz a análise de; analítico.

- Pessoa que condena: ele se tornou um crítico impiedoso.

- Que censura, deprecia, desaprova.

- Que avalia competentemente, distingue o verdadeiro do falso, o bom do mau etc.


Interessante notar que a mesma palavra é usada para definir alguém que "avalia competentemente" e alguém que "condena". Sim, as pessoas disparam uma gatilho e logo relacionam a crítica com o apontamento de defeitos. Ora, uma avaliação competente deve apontar defeitos não deve? O engenheiro que avalia uma construção precisa ser crítico ou a edificação vai desmoronar. O cientista que está estudando um fenômeno da natureza precisa ser crítico para não ser ludibriado pelos resultados. E digo mais: A comunidade científica precisa ser crítica a ponto de avaliar rigorosamente a produção de conhecimento... Não é assim que a ciência funciona há séculos? Teste duplo cego, avaliação por pares, reprodução de experimentos, aquela história toda.

Não pense você que o cientista e o crítico de cinema falam nesse tom analítico porque eles são rabugentos (também, mas não é por isso), eles estão apenas aplicando o senso crítico, analisando e julgando baseado-se em evidências, teorias, fatos, argumentos... Indo além do senso comum que muitas vezes acaba nos ludibriando.

O senso comum jamais deve ser desprezado, ele existe por algum motivo e é justamente o senso crítico que nos permite não ser enganado pelo senso comum e também pela má fé. Não aceitar qualquer notícia na TV, não aceitar qualquer porcaria no cinema, não se deixar enganar por pseudociências que prometem e vendem sonhos e por ai vai...

 A diferença é que por mais bem argumentada que seja uma crítica de cinema, nela sempre existirá o aspecto subjetivo, a opinião. Enquanto o cientista, não pode se dar a este luxo. Outra diferença importante é que se fosse não tiver senso crítico para o cinema, no máximo você vai achar coisas como "Crepúsculo" uma maravilha, e se você vive sua vida sem senso crítico...Bem, você aceita coisas como: astrologia, terra plana, "aquecimento global não existe", "vacinas não funcionam", "o homem não foi à lua"...  ¯\_(ツ)_/¯





Referências