O Primeiro Homem


First Man (2018)
"O primeiro homem" (First man, 2018) estreou no Brasil em Outubro de 2018 e eu não tinha criado coragem de escrever sobre este que é um dos meus filmes preferidos do ano passado. Após ver mais ou menos umas quatro vezes e começar a ler a biografia que inspirou o filme (O Primeiro Homem: A vida de Neil Armstrong, Editora Intrínseca), decidi que era a hora.


Como sempre digo quando falo de ficção científica neste humilde blog, mostrar o lado humano da coisa é sempre um desafio. É claro que mostrar situações coerentes e tratar a ciência envolvida com respeito é de suma importância e é o mínimo que se espera de um filme que quer ser levado à sério. Porém, como dito, isso é o mínimo e muitas obras alcançam tal feito. O que diferencia um sci-fi mediano de um bom sci-fi é quando ele une os dois mundos: Ciência séria e personagens com humanidade. E neste ponto "First man" (que não chega a ser exatamente um sci-fi, mas está bem perto) acerta em cheio ao focar praticamente o filme todo na personalidade de Neil Armstrong (Ryan Gosling) e nos bastidores da primeira missão tripulada à lua.


"O Programa Apollo nasceu em 1961 para suceder os programas Mercury e Gemini, tendo esse primeiro desempenhado o papel de desenvolver as tecnologias e os recursos necessários para lançar naves tripuladas para fora da atmosfera terrestre, e o segundo, a missão de explorar os meios cabíveis de conduzir astronautas até a Lua. O Programa Apollo, portanto, coroou os esforços de seus antecessores". (Brasil escola)

Em uma época onde o formato da terra é questionado sem o menor embasamento, um filme como este é de extema importância para despertar interesse em questões importantes de nossa história recente. Não que ele vá convencer os terra planistas a mudar de ideia, mas vários elementos importantes estão presentes ali. Vou destacar três:

- O contexto da corrida espacial e armamentista que permeeou toda uma geração.

- A pressão da população e de parte da mídia que enxergava no programa um desperdício de recursos públicos.

- A vida dos envolvidos e seus familiares.

Sobre o primeiro ponto é interessante notar como a trinca ciência, tecnologia e militarismo andam sempre próximas umas das outras. Não fosse a competição com a União soviética, quantos anos teríamos levado para investir tanto numa missão como essa? Ao mesmo tempo o segundo item é quase paradoxal em relação ao primeiro, deixe-me explicar: Quando a população e a mídia não enxergam o "retorno" que a ciência traz, são gerados questionamentos e decisões equivocadas são tomadas por parte de nossos governantes (não é mesmo senhor presidente do Brasil? Daqui alguns anos vamos ver o buraco em que nos enfiamos).

A obessão por vencer a guerra fria, misturada com o progresso resultante da missão aliada a boa e velha curiosidade humana foram o suficiente para vencer as críticas a todo o investimento e vidas empreendidos no programa espacial que teve seu momento mais delicado no acidente ocorrido em 27 de janeiro de 1967, o qual vitimou os astronautas Roger B. Chaffee, Edward H. White, II e Virgil "Gus" Grissom. Na ocasião um curto-circuito no interior da cabine causou um incêndio no cockpit (ainda em solo) matando toda a tripulação. Este fato colocou o programa em risco e atrasou em vários meses as missões seguintes (a ocasião é muito bem retratada no filme entre cenas de protesto e coletivas de imprensa).




Vídeo: O acidente que quase acabou com o programa Apollo


E por último mas não menos importante, o arco dos personagens. Onde temos a humanidade dos mesmos sendo retratada de forma bem natural. Neil Armstrong é um homem calado que amargura um trauma pessoal, possui a sensibilidade e a obsessão para comandar uma missão deste tamanho, mas ao mesmo tempo não consegue mostrar a mesma sensibilidade diante dos filhos e dos amigos (todos os méritos ao Ryan Gosling que se tornou o maior especialista em personagens do tipo caladão e cheios de conflito. Drive está ai para comprovar). Destaque também para sua esposa, Janet Shearon (Claire Foy) que jamais faz o papel da "donzela em perigo" e é mostrada como uma mulher forte, capaz de criar os dois filhos, suportar a pressão de ter a família envolvida em algo tão grandioso (detalhe para a cena onde figurões da NASA levam uma verdadeira bronca).

O filme pode acabar assustando os desavisados devido ao rítmo lento e a falta de diálogo, mas nada que comprometa a experiência. Também é inevitável que em filmes deste tipo vários acontecimentos importantes fiquem de fora e diversas situações sejam reimaginadas, mas com certeza os 50 anos da missão Apollo 11 estão bem representados em um uma obra tecnicamente competente (Oscar de melhores efeitos visuais) sobre um tema relevante e acompanhado de uma bela música tema (entoada magistralmente na cena do pouso, mais detalhes sobre a música aqui no ótimo vídeo do canal Isac Ness).


Fontes

https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/programa-apollo.htm
http://apollo1.spacelog.org/
https://www.themoviedb.org/movie/369972-first-man